A LENDA DO AMOR
Era uma vez, no início dos tempos, um mundo em que não existiam homens nem mulheres, apenas os sentimentos que vagavam pelo planeta.
Numa tarde de chuva, os sentimentos não sabiam o que fazer.
O Tédio só ficava bocejando. A Ternura, então, propôs brincar de esconde-esconde. Todos acharam uma ótima idéia. Quer dizer, nem todos, porque o Ódio disse: - Eu não. Eu não gosto deles.
A Verdade preferiu não se esconder. Para quê? De qualquer maneira ela sempre aparecia... A Sabedoria disse que isso era uma brincadeira de tolos. É claro. A idéia não tinha sido dela... E a covardia preferiu não se arriscar... Mas a Amizade disse: - Oh! Que coisa boa, estamos todos juntos.
E a Loucura quis ser o pegador, mas a Inveja foi logo dizendo: - Por que tem que ser ela, sempre ela? Só porque é louca???
Mas a Loucura a essas alturas já estava contando: 98, 27, 35, 44, 55, 63, 22 ...
Enquanto isso os sentimentos começaram a se esconder um a um.
O Amor não sabia o que fazer. Resolveu se esconder atrás de uma roseira, mas pensou que, logo, logo a Loucura iria encontrá-lo.
Então, resolveu se enterrar entre as raízes da roseira.
Foi o tempo exato para que a Loucura terminasse de contar: - 25, 99, 1..., lá vou eu...
Mal abriu os olhos, quem achou ao seu lado?
A Preguiça, que não tinha saído do lugar.
Caiu um raio que iluminou o céu e um dos sentimentos que ainda tentava se esconder, ora atrás de uma árvore, ora atrás de outra... Quem era? A Dúvida.
Depois, de uma só vez, a Loucura encontrou dois, pois a Inveja, é lógico, tinha se escondido à sombra do Sucesso. Começou a sentir um cheiro horrível, nogento. Aproximou-se do lixo e encontrou a Injustiça. E assim ela foi encontrando, um a um, todos os sentimentos. Mas faltava o Amor. Procurava, procurava e não o achava. Então, a Traição aproximou-se e disse baixinho: - Está na roseira.
A Loucura não entendeu. A Traição falou mais alto: - Está no meio da roseira, entre as raízes da roseira.
A Loucura, mais louca do que nunca, aproximou-se da roseira e arrancou-a de uma vez. O Amor veio junto, só que com os olhos ensangüentados.
A loucura, desesperada, perguntou: - Amor, o que te fiz?
- Tu me cegaste.
- O que posso fazer por ti?
- A partir de hoje serás o meu guia.
E é por isso que, desde aquele dia, o Amor e a Loucura andam sempre juntos.
[(Tradição Grega) Reconto: Robreto de Freitas(snt)]
[Bibliográfia: Matos, Gislayne Avelar. O ofício do contador de histórias : perguntas e respostas, exercícios práticos e um repertório para encantar. São Paulo : Martins Fontes, 2005.]
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